Sobre a correlação (proposta) entre transtorno de personalidade borderline ou limítrofe e talento dramático

Ana Beatriz Barbosa é uma psiquiatra conhecida nos meios de comunicação brasileiros por sua capacidade de auto promoção, pelos seus livros e pelo seu carisma. Então, desde a um tempo que, aleatória e esporadicamente, comecei a acompanhar suas entrevistas e que também comecei a discordar de algumas de suas afirmações, por achá-las demasiado fantásticas*. Uma que mais me chamou a atenção foi a afirmação de que existe uma relação praticamente causal entre transtorno borderline ou limítrofe e ter um potencial para o talento dramático, justamente por causa da natureza deste transtorno de personalidade, cujo sintoma mais característico é uma instabilidade emocional crônica. De maneira mais literal, ela afirmou que, (praticamente) todo grande ator ou atriz é "borderline". Porém, contudo, todavia, existem alguns exemplos bastante notórios de que essa afirmação de causalidade não se replica para todos, talvez nem mesmo para a maioria dos casos, tal como o da brilhante atriz estadunidense Meryl Streep, que, se com base em observação dos seus traços de personalidade, definitivamente não aparenta qualquer desequilíbrio emocional severo, até o oposto disso. Pois ela não é a única. Eu também poderia citar outra camaleoa da atuação, a australiana Toni Collette, que apresenta o mesmo perfil: personalidade aparentemente tranquila e um talento gigante para incorporar diferentes personagens. No entanto, isso não significa que uma possível correlação positiva entre apresentar transtornos de humor e talento para a atuação não tenha qualquer respaldo científico, se já existem estudos que têm encontrado essa correlação em outras áreas do mundo das artes, como na escrita. O que parece ser mais provável ou próximo a uma verdade nesse tópico específico é de que transtornos de humor, como o de personalidade borderline ou limítrofe, pode ajudar no tipo literalmente mais dramático de atuação, que não é o mesmo que o tipo mais camaleônico. Para esse, eu até penso que o oposto é o mais provável, de que uma personalidade equilibrada, se não serve como um elemento de destaque na promoção de uma maior capacidade de atuação, pelo menos atua como um elemento de suporte, necessário para quem se especializa em incursões psicológicas profundas (um outro exemplo de grande atriz que não parece sofrer de transtorno de humor é Liv Ullmann, musa e ex esposa do lendário diretor Ingmar Bergman, conhecida por suas atuações dramáticas muito intensas/ e, para não ser injusto, dois exemplos de atores ou atrizes de grande talento que provavelmente sofriam de algum transtorno mental e faleceram de maneira precoce e trágica: Heath Ledger e Brittany Murphy).

Claro que não estou pretendendo substituir uma proposta de causalidade por outra, mas de sugerir uma correlação interseccional entre os dois tipos de capacidade de atuação e os dois perfis psicológicos.

* Desprezando completamente a pseudagem "quântica" que ela tem se enveredado ultimamente...