나비 (Borboleta)

Hoje não era um dia especial para se escrever ou até mesmo para se apreciar, era apenas um dia no qual precisava resolver problemas: Pagar contas, lavar louça, tomar banho, trabalhar, ou seja, um dia mais do que comum, um dia qualquer. Enquanto estava no semáforo vi uma borboleta amarela com desenhos pretos do tamanho da palma da minha mão, Ela planou tão perto que fios mínimos dos meus cabelos acompanharam-na, depois Ela fez mais uma vez agora no topo da minha cabeça. O céu tão nublado e o centro da cidade tão barulhento não parecia mais ser um incômodo, tão pequena, mas poderosa ao ponto de fazer o sol sorrir e o azul do céu dar as caras. As pessoas tão cruas e frias como um sushi mal feito tornaram-se coloridas e gentis como um bom sorvete tailandês. Após pagar as contas e me despedir dos doces estranhos que havia trocado breves palavras cordiais vi ao final da rua um resquício do mar e me veio a mente: "E se eu fosse?".

Eu fui, a maré estava seca mas a praia não havia perdido o brilho, a vida residia ali mesmo que a maioria não percebesse. Ao longo da orla quanto mais eu andava mais longe eu ia dos barcos, canoas, botes e pessoas, chegando então em um pequeno oásis, sentei na areia embaixo de um pinheiro muito velho, fiquei contemplando as dunas, o vento, os coqueiros, chorei. Eu chorei não por tristeza ou solidão, chorei por alívio, seria estranho sentir alívio ao ponto de chorar ? Seria bizarro ser sensível ao ínfimo contato com a Natureza? Talvez seria estranho se eu não sentisse nada, apreciar a Vida é deveras mais difícil do que a Morte para mim. Com quem eu poderia compartilhar meus hobbies, minhas besteiras, minhas piadas sem graça ou até mesmo validar o que eu falo? "É idiotice", "É perca de tempo" e quando me calo o que eu ouço: "Você é sensível", "Se irritou por besteira" e por estar só contemplando o mais belo fenômeno da Natureza me senti aliviada de estar livre o suficiente para sorrir ou chorar, o que for melhor.

De repente outra borboleta apareceu, pequena como um broto de bambu, laranja, voando ao meu redor como um bom presságio que outrora me faltava, voou pelos matos crescidos na areia, por mim uma mera humana desajeitada e pelas pedras ricas em ostras e as mais diversas criaturas marinhas, depois sumiu. Uma hora se passou como uma brisa, andei pela areia, molhei meus pés na água salgada e deitei como uma criança na areia sem sequer pensar na sujeira que adquiri em minhas vestes. Olhei para o céu, o sol queimava perto do meio dia e respirei fundo como se de alguma forma eu pudesse absorver aquele momento para sempre, mesmo sabendo que seria impossível. Fui embora, chegando aqui no meu Quarto bege senti uma dor fina mas confortável em minha nuca, uma borboleta havia pousado em mim e viramos uma só.

Élida Souza
Enviado por Élida Souza em 07/05/2024
Reeditado em 07/05/2024
Código do texto: T8058250
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