A SERPENTE NA XÍCARA DE CAFÉ

Bebi apenas um gole de café e coloquei a xícara sobre a mesa. Foi quando, para minha perplexidade, avistei a cabeça da cobra vindo à tona exibindo suas terríveis presas e tomando inexplicável proporção bem diante dos meus olhos. Um grito abafado tentou fugir de minha garganta, saltei para trás instintivamente com os olhos esbugalhados e apavorados fitos no monstro que se agigantava brotando do líquido negro que eu acabara de beber.

Não era para ser, impossível aquilo, mas era, uma serpente brotava inesperadamente da xicara e crescia à medida que saía da bebida ainda morna e ganhava tamanho sem medida. Como aquele nocivo animal peçonhento tão grande chegou ao recipiente entrou, embrenhou-se nalgum cantinho e eu não a vi quando tomei o primeiro gole de café? Eu deveria ter visto! Mas não vi. Ademais e mais importante, como ela, enorme e diametralmente espessa, cabia num espaço tão exíguo? Nada fazia sentido.

A surpreendente cobra terminou de deslizar para fora da minha xícara de café(notei quão enorme era, porém não sei definir a qual espécie pertencia nem se era venenosa ou não), arrastou-se pela mesa, desceu por uma das pernas e se foi no rumo da porta. Paralisado diante do inusitado acontecimento, sem acreditar que da pequena xícara contendo o café que comecei a beber sem enxergar o perigo repentinamente apareceu uma cobra, permaneci estatelado tentando compreender o mistério. Claro que não entendi, nunca consegui desvendar a incógnita e também jamais me recuperei do choque.

Até hoje me pergunto se todo o acontecido não foi apenas um pesadelo. Sem resposta. É possível uma cobra grande sair de uma xícara cheia de café, mesmo sendo ela de proporções absurdas para se esconder num espaço tão pequeno e já ocupado pelo líquido? Tantas perguntas, nenhuma resposta. Enlouqueci? Eu vi mesmo a cobra na xícara com café? Chega, perdi a noção do ponderavel.