Feito das Chamas

“Mas essa não é toda a história!”, Norman Filley continuou contando o que já estava contando há quase uma hora, perto da fogueira que mais ficava longe do quarto do seu grupo no acampamento, e no meio de uma noite fria de inverno de 1975, “Excepcionalmente, aquela bruxa, mais bonita do que qualquer mulher que o meu pai já viu, e, por coincidência, muito parecida com a minha tataravó, se transformou na criatura bizarra que ela realmente era, e partiu pra cima dele!”. Abrindo os seus braços para os lados e fazendo meio que garras de monstros com os dedos das mãos deles. Botando a sua língua para fora da sua boca e tentando fazer uma careta assustadora.

Além de Norman naquele lugar, também tinham mais 3 dos seus amigos, Richard Ballen, Gloria McFrey, e Georgina Dansas. Todos eles, tirando o próprio Richard, estavam completamente animados e ansiosos para o que ia acontecer com o resto da história de Norman. Que, às vezes, parecia ser muito falsa. Mas que, de uma maneira encantadora e quase que incrível, conseguia chamar a atenção de todo mundo com o poder da sua narração e riqueza em detalhes. Ele tinha potencial com isso e já se cansou de se imaginar como um escritor de sucesso no futuro.

Por causa da surpresa que foi o seu comportamento, do nada, Gloria e Georgina foram para trás com um susto. Elas olharam uma para a cara da outra e se viram numa situação em que estavam quase que entregues para tudo o que o seu querido amigo Norman estava falando.

“Será que você pode ir mais rápido com isso?”, Richard começou a falar para ele, deixando de ficar com os seus braços cruzados e respirando fundo, como se não quisesse mais ouvir nenhuma mentira naquela noite, “Essa bruxa é uma personagem imaginária, o seu pai não fez isso, e toda essa situação não passa de história pra boi dormir!”, com uma irritação frustrada na sua voz, fazendo com que Gloria e Giorgina tomassem mais um susto do nada, levando, dessa vez, os seus corpos para o lado esquerdo e olhando para Richard como se ele estivesse fazendo algo para lá de cruel.

No momento em que o seu amigo parou de fazer isso, parou de reclamar, Norman teve que respirar fundo para não perder a sua paciência. Fechou os seus olhos rapidamente e abriu eles de novo, nessa mesma velocidade. Passou eles por todas as coisas que dava para ver, como a sua própria fogueira, Gloria, Giorgina e a grande floresta que tinha por trás deles todos, e levou esses seus mesmos olhos para os pretos e desconfiados de Richard.

“Tudo bem, Richie”, Norman começou a falar de novo, agora com mais calma, “Eu juro por Deus que tudo o que eu contei é verdade, e que não tem nada de mentiroso aqui, só a emoção do momento”.

O que fez Richard cruzar os seus braços de novo e dar de ombros, fechando os seus olhos, mais uma vez, com impaciência e, aparentemente, fazendo um grande esforço para deixar o seu amigo falar.

“Resumindo”, Norman continuou, “O meu pai quase conseguiu matar aquela bruxa com as suas próprias mãos, mas ela disse que, na verdade, era um parente nosso muito distante, e que não era para eu vir para esse acampamento”, enquanto, ainda por trás dos ombros dos seus amigos, apareciam e piscavam o que pareciam ser olhos laranjas de bichos com muita fome.

“Se não?”, Gloria tomou coragem e perguntou para ele, sentindo que aquele lugar estava ficando fechado até demais.

Norman, de novo, respirou fundo e respondeu à pergunta dela, não conseguindo tirar os seus olhos do que tinha entre aquelas árvores tão vivas e verdes e grossas: “Isso aí já é outra história”.

15 de Abril de 2024

Magarão
Enviado por Magarão em 29/04/2024
Código do texto: T8052198
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