Xandão Bonaparte

Personagem dos mais impopulares de nossa democracia, quer dizer, de nossa literatura, é parente distante de outro personagem mais conhecido, Simão Bacamarte. Xandão é devotado a sua - segundo ele mesmo, acredite - intransigente defesa da democracia e da verdade. Assim, sempre que pode ou mesmo não podendo, manda para a cadeia todo aquele que se envolve com liberalismo ou anarquia, embora conviva muito bem com socialistas e comunistas, nem sempre pessoas probas, de boa índole ou reconhecido saber jurídico.

Xandão Bacamarte é assim uma estranha mistura de jurista com alienista, especialmente quando veste sua capa preta de Batman, embora se pareça menos com o amigo de Robin e muito mais com Bento Carneiro, vampiro brasileiro, ou até mesmo com Nosferatu, vampiro estrangeiro.

Se não fosse um personagem dele mesmo e do nosso criativo e fictício judiciário, poderia ser um personagem de Machado de Assis. Mas não é, claro, já que o Bruxo do Cosme Velho está morto há tempos e ainda por cima preso (epa!), perdão, seus restos mortais se encontram no mausoléu da Academia Brasileira de Letras e de lá não sairão tão cedo, talvez nunca mais. Assim como ficarão presos por muitos anos todos os condenados por Xandão Bacamarte ultimamente.

Data venia, em matéria de libertação, o jurista alienista está mais para podar e cortar (machado) do que para o misericordioso São Francisco (de Assis). Xandão Bacamarte não dará sossego a ninguém enquanto não chegar o tão sonhado dia em que os condenados todos o reconhecerão como o primeiro e único Xandão Bonaparte.

E nesse dia, todos cantaremos: Allons enfant de la patrie, / Le jour de gloire est arrivé!