Teias do Destino

Capítulo II – INTRIGAS

Ao final da festa, Acerbus e seu irmão caçula, Périto, se reúnem em seu escritório para tomar um cálice de vinho.

O lugar exalava imponência, digna do dono - que além de patriarca dos Vitums, também é o Presidente do Conselho Summum Kallísto.

O calor da saleta os deixava com as bochechas vermelhas e aquecidas, e o ar exalava um cheiro doce de incensos de canela.

Momentos após conversarem, Acerbus se arrependeu de ter feito o convite: Périto não parava de falar sobre como considerava perigosa a relação entre arquelândios e kallístos.

Suspirando, Acerbus retruca:

--- Deixe de falar besteiras! Já te disse diversas vezes que não temos razão alguma para desconfiar dos nossos vizinhos!

Se remexendo na cadeira, muda de assunto:

— Me diga: como está nossa mãe? - indaga sinceramente curioso e saudoso de sua linda mãe, Melina.

Ignorando a pergunta do mais velho, Périto prossegue com as injúrias contra Arquelândia:

— Nunca se perguntou por que sua esposa odeia tanto os humanos? Afinal de contas, há pouco menos de um ano ela sempre estava entre eles confraternizando - até demais eu diria – insinua o mais novo.

Então, um silêncio sepulcral se instala no ambiente e a serenidade e doçura costumeiras nos olhos de Acerbus dão lugar a uma fúria genuína.

--- O que está querendo dizer com isso? – o questiona com os olhos fixos nos olhos do outro, tentando conter a raiva.

--- Ei, calma irmão! - exclama o ardiloso.

Notando a transparente ira no mais velho, faz um gesto de trégua com as mãos e continua:

— Eu só quero o seu bem e do nosso país.

Fazendo a mesa estremecer com um soco, Acerbus se levanta furioso:

— Cale essa boca! O que você quer é criar intrigas como sempre faz seu maldito - berra inclinando-se sob sua mesa.

Com o susto, Périto se levanta e conclui:

--- Desculpe se o ofendi irmão. Mas se procurar saber mais sobre sua esposa, verá que tenho razão.

Se precisar de ajuda, me procure. - diz o dissimulando uma feição preocupada.

Deixando Acerbus atônito, sai e ao fechar a porta atrás de si, sorri com malícia.

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Não muito distante dali, a carruagem Real seguia depressa rumo a Arquelândia. Ramon dormia no colo de seu pai e Lara estava desperta, sendo amamentada pela mãe.

Preocupada, Carmen comenta:

--- Querido, não podemos mais trazer Lara para Kallísto, pode ser perigoso. Eles não podem saber...

Olhando para paisagem escura, úmida e sombria através da janela, Rodríguez responde:

— Eu sei, querida. Eu sei – interrompe o Rei, exausto.

E assim, eles seguem pela fria penumbra noturna.

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Sentado imóvel em sua escrivaninha, Acerbus ainda estava esfriando a cabeça para voltar a raciocinar.

Odiava o irmão naquele momento, mas não podia discordar de seu comentário: Persefone gostava de estar entre os humanos até pouco tempo atrás, assim como ele.

No entanto, repentinamente ela passa a repudiá-los: "por que?" - se pergunta.

Refletindo sobre isso, ele se recordou dos meses em que a esposa, na época sua noiva, ficou fora do país.

Danzara, sua sogra, alegara que a filha precisava de um ano para se aprofundar nas Artes Mágicas.

Ninguém da família estranhou, já que era sabido que Persefone não era dada às práticas de magia e sempre burlava as lições.

— O que aconteceu nesse último ano que a fez mudar tanto - murmura para si, enquanto cruza as mãos à frente do rosto e observa as labaredas da lareira à sua frente.

Concentrado, ele se serve de mais um cálice de vinho, e então uma outra lembrança lhe veio à mente: o dia em que Persefone veio até ele após regressar a Kallísto, e lhe pediu para adiantar o casamento.

Como ela praticamente implorou para que fizessem logo a união, Acerbus considerou a súplica como um ato de amor que finalmente desabrochara, e por isso atendeu ao pedido de sua amada.

Mas agora, ao analisar friamente aquele momento, ele se recorda do jeito dela: desolada, chorosa ... aterrorizada - diria. Não era por amor, parecia algo para corrigir um erro...

Com um frio na espinha, ele se dá conta do que acontecera:

—Ela não faria isso --- murmura temeroso e com uma crescente onda de raiva.

Decidido, se levanta e sai a passos largos em direção ao quarto de Persefone.

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Com o crepúsculo matutino, chega um indivíduo estranho em Arquelândia: um homem pequeno, vestido com uma blusa verde e calça caqui em frangalhos, e descalço.

Tinha cabelos castanhos acobreados e revoltos - que há muito tempo não via um bom corte e barba serrada por fazer. Tinha olhos miúdos, que lhe conferiam um ar quase infantil se não fossem pelas marcas de envelhecimento ao redor.

Mas o que realmente chamou a atenção dos habitantes foi melodioso som que ele fazia com sua flauta: quem ouvia tinha a sensação de que toda a angústia de seu coração estava sendo expurgada.

E assim, uma roda de pessoas se formou ao redor daquela intrigante criatura para que pudessem aproveitar mais de perto os efeitos da música.

No entanto, logo aquele belo momento foi interrompido, pois soldados vieram e afastaram a multidão. O chefe da guarda Real, um indivíduo imponente, de pele dourada e armadura cintilante, se aproximou do inesperado visitante:

--- Como ousa entrar em nossas terras sem anunciar previamente sua presença? – indaga irritado.

Fazendo uma reverência exagerada, o flautista responde:

--- Desculpe, gentil senhor! Meu nome é Helmier: trago importantes notícias para os Reis!

Em breve sairá o próximo capítulo...

Amanda Brasiliano
Enviado por Amanda Brasiliano em 07/05/2024
Reeditado em 07/05/2024
Código do texto: T8058168
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