Décimo quarto conto poético: Elis acordou
Não foi dormir pra sempre
Depois daquele suicídio ou acidente
Acordou naquele dia
Depois do susto que deu em todo Brasil
Os olhos ainda fechados
O sorriso entreaberto
E foi viver mais umas boas décadas
Mas só para ver a derrocada da cultura brasileira
Da substituição do bom gosto e do talento pelo dinheiro e pela fama
Foi só para ver, sozinha, ranzinza, o Brasil de esperança que deixou se tornar o Brasil do desprezo
Só para ver cada ciclo artístico entregar um resultado pior que o do ciclo anterior
Sobrando nada mais que mediocridade, vulgaridade...
Foi só para entrar em desespero
E concluir que poderia ter morrido ali mesmo