O despertar do universo consciente

“O despertar do universo consciente – um manifesto para o futuro da humanidade” (Editora Record, 2024) é o título do inspirado e inspirador livro do internacionalmente renomado físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser. Nele o autor historia nossa ideia de mundo desde a Antiguidade até os dias atuais, passando pela Terra como centro do universo, depois o heliocentrismo, até a consciência de um planeta periférico de uma galáxia entre incontáveis outras, cada uma delas com incontáveis estrelas e planetas.

A consciência de que não somos o centro do mundo teria dessacralizado o planeta que acolhe o mistério da vida, da qual somos, talvez, a manifestação mais evoluída. E dessacralizou-se também a espécie humana, a partir de então encarada como a reles população de um ordinário corpo celeste orbitando uma vulgar estrela de quinta grandeza. De acordo com Gleiser, a Terra teria começado a perder seu encantamento no Século XVI, com o modelo heliocêntrico de Nicolau Copérnico. A novidade revoltou a Inquisição, crente do geocentrismo e do ser humano como a criação divina à imagem do criador, situada no centro do universo.

O livro nos conduz ao longo da evolução do conhecimento do universo, da Terra, da proliferação da vida em nosso planeta e da, até agora, nossa solidão cósmica. Estaremos de fato sozinhos nessa imensidão de mundos? Somos alertados da singularidade de nosso planeta, e do fenômeno da vida que aqui grassa.

Nas palavras do autor, um planeta que abriga a vida é um planeta sagrado. Mas o conhecimento, a ciência e a tecnologia parecem ter-nos conduzido a uma falência moral. A civilização atual dessacralizou a natureza, subvertendo o sublime e o místico que os povos originários atribuem à criação do mundo que sustenta a vida.

Monetarizamos a natureza e a vida, e escolhemos trilhar um caminho que arrisca conduzir-nos à extinção de nossa espécie. Talvez até mesmo de toda a vida no planeta. De toda a vida no universo?

Após sensibilizar-nos mostrando-nos como a Terra é única no cosmo que conhecemos, e como a vida é um inexplicável e fantástico mistério, o autor nos convoca para o reencontro com o sagrado que se manifesta no mundo e nos organismos vivos. Para as pessoas por demais urbanizadas, sugere ações simples: cultivar um jardim e árvores, frequentar parques com lagos e bosques, caminhar ao longo de rios e das praias, observar os pássaros, os animais, o céu...

Não somos superiores à natureza e à vida, mas somos um fenômeno único no universo. Nas palavras de Marcelo Gleiser, “precisamos ressacralizar o mundo”.