O POETA E A MONTANHA

Fixo o olhar no horizonte a ver uma montanha.

Altaneira, monolítica, enigmática, colossal;

Sem sentimentos, hirta, de natureza estranha;

Esfinge devoradora num mergulho abissal.

Olho para ela com ela a me fitar,

Que sem dizer uma palavra, me avacalha.

De súbito me assalta e põe-se a arrebatar

O sentimento que abrigo e me agasalha.

Percebes, menina, que a montanha lhe é indiferente?

Teus músculos mímicos em ação não à seduzem;

Talvez até te ignores, pois ela se basta.

Mas, ai de mim! poetastro de poesia carente,

No cimo avisto-te e os meus passos me conduzem

Ao fadário. E a montanha, vencida, se afasta.